Tristeza é boa de escrever. Hoje, ainda triste, não vim dar a ti textículo algum, caro leitor. Peço licença, mas vim mesmo é me dar liberdade de escrever quantas palavras forem necessárias. E, se for de textão, que seja. Que o textículo espere a próxima deixa, para os parágrafos ajudarem a tristeza a dar o fora.
Já enchi algumas páginas. Por isso, seria injusto não encher aqui também, sabendo que algum doido vai me ler e que ainda vai gostar. A experiência humana só faz sentido quando é compartilhada. Eu poderia guardar ela para mim, mas não faz meu tipo. Encontro sentido quando a dor faz escola. Tanto para mim, quanto para o outro.
O Amor não tem depois.
O Amor é o tempo inteiro consumindo-se no instante.
⸺ Mia Couto.
Mas também não vim falar de tristeza. Só uma coisa é certa nessa vida, a de que estamos sós. Doa a quem doer. Sei que a tristeza é passageira. Por isso, vim falar de coisa menos efêmera. Eu vim antes falar de Amor. E eu sei, você já ouviu falar tanto de Amor. Capaz de estar cansado de ouvir sobre essa entidade nas músicas de elevador e de restaurante para gringo que tocam Vinícius e Jobim.
Vamos lá, me dê essa chance e sua paciência. Quero te contar da minha própria vivência com Amor. Mas aquele com letra maiúscula, igual Camões escrevia nos sonetos. Aquele que não é mais paixão, já é outra coisa. Experiência que só quem deixou a puberdade amorosa consegue saber que viveu enquanto adulto.
Sendo o fim doce, que importa que o começo amargo fosse?
Bem está o que acaba.
⸺ William Shakespeare.
Após criar o hábito da leitura, ainda menina, fui pega pelos romances. Esse gênero que faz mulheres de quarenta anos assistirem doramas e lerem livros de criança para ter esperança na vida. Mas não me apeguei aos romances infantis, e nada contra. Gostava mesmo era daquela fase terceira do romantismo pré-realista. Na qual o amor na vida era direto e libertário, menos idealista. A dura verdade nos livros de Machado de Assis e as grandes tragédias shakesperianas. Sou fã das fatalidades de Nelson Rodrigues, da sujeira de Bukowski e da malandragem de Chico. Amor para mim era mistura de todas essas delícias.
Sempre fui assim amorosa. Me importam demais as palavras. Descobri cedo que o casamento era uma ideia que não fazia sentido algum para mim. Mas, mesmo assim, me importam os afetos, os planos e as cartas. Sempre senti muito e nunca me arrependi. Na vida, Amor para dar nunca me faltou e eu sempre dei sem esperar receber nada em troca. Nada além de segurança. Aquela danada que ilude a gente a achar que pode ter um pouco de estabilidade em um mundo que é volátil.
Nas minhas duas últimas experiências, descobri como reconhecer Amor. Já não queria amar como menina, queria Amar como mulher. A minha própria definição de Amor foi um tapa na cara, pois não tinha nada de glamuroso ou de épico:
Amor para mim é quando se enxerga a alma.
Simples assim e, uma vez visto, não tem como se des-ver. Foi amando um homem de verdade que eu entendi que o amor por um homem pouco se difere de amizade. Amor é mais simples do que parece. Não é sobre estar perto, nem sobre estar longe. Não é sobre o desejo, ou a falta dele. Não é sobre ser macho, ou ser fêmea. A gente sabe que ama quando se respeita, se admira e se enxerga.
Ver a alma de alguém é entender porque essa pessoa faz suas escolhas, mesmo que se considere absurdas pessoalmente. É ter empatia pelos momentos de vida do outro. É estar ali sabendo quem se é, sem querer mudar algo. Ver a alma de alguém é não questionar quanto tempo passou e quanto mais há de haver. A vida apenas acontece e a gente vai respeitando os momentos, porque sabe que hão de haver vários diferentes.
Não existe separação quando se ama. O Amor de fato é eterno. Ele existe e só. E mesmo que se perca o cotidiano, o Amor continua presente. Deve ser como ter um filho. Onde não existe uma concordância, mas existe amor. É como um amigo que mudou tanto, e mesmo que não se veja mais, nunca se deixou de apreciar.
O Amor eterno não existe. Mesmo a mais forte paixão tem o seu tempo de vida. Chega seu dia, se acaba, nasce outro amor. Por isso mesmo o Amor é eterno.
⸺ Jorge Amado.
23 de fevereiro:Ai como é bom amar você. É bom pensar no teu sorriso. Os dentes grandes e tão bonitos a me dizer que estás feliz. É bom lembrar dos olhos fortes. E por eles receber correspondência de vontades.
Ai como é bom amar você. Lembrar da fome pela cama. E como nos jantamos enquanto amamos. Lembrar que a saudade da semana pode ser pausada durante sábados e domingos.
Ai como é bom amar você. Saber que o mundo é todo nosso para viver. Ter a certeza de que nada é impossível pra você.
Ai como é bom te escrever. Gosto um tanto dos poemas tristes. Mas esses teus não quero nunca parar de fazer.
E você, já Amou com letra maiúscula?